O Oriente Antigo situa-se numa região de clima árido e
semiárido, isto é, em meio ao deserto. A escassez de chuvas nesta região tornava
penosa a vida de seus habitantes que tendiam a viver na proximidade dos rios. Sendo a água de fundamental importância para a
manutenção da vida, sua falta implicava na sua maior valorização, o que levava a um
cuidado com os rios a fim de se evitar sua poluição. Por meio dos rios se favorecia também os contatos comerciais já
que eles são, na maioria das vezes, o único meio de transporte possível e quase sempre o
mais viável.
Às margens dos rios Nilo, no Egito, e Tigre e Eufrates, na
Mesopotâmia, se concentravam a população destes grandes impérios da
antiguidade. No Egito, o Nilo era a única fonte de água já que em toda a
extensão do território egípcio tem-se um grande deserto. Na Mesopotâmia, o
povoamento se deu exatamente entre os dois rios principais, daí a origem do
termo que dá nome a essa antiga civilização, "região entre rios”. Devido às
condições climáticas descritas a água era vista como elemento sagrado e
mantinha uma íntima relação com aspectos da religião. No Egito existia uma
oração destinada a agradecer todos os benefícios que o Rio Nilo proporcionava a
população. A água desse rio também era comumente usada em rituais de
purificação, a exemplo do ritual pelo qual se passava um homem que deixa de ser
escravo, o mesmo ocorria na Mesopotâmia.
A importância das águas estava refletida principalmente no
comportamento dos rios ao longo do ano. No Egito havia três estações bem
demarcadas e estas dependiam do regime do Rio Nilo: época da cheia, época da
vazante (plantio) e época da colheita. Dessa forma, o comportamento dos rios
determinava a maneira como as pessoas iriam viver bem como os ciclos de
trabalho e de descanso de população, já que eles eram essenciais para a prática
da agricultura, atividade base de toda a economia do Oriente Antigo.
Para o perfeito funcionamento da lavoura agrícola era
essencial que os rios mantivessem níveis adequados de água nas épocas de cheias ou vazantes. No Egito um metro além deste nível
causava uma grande inundação, e imensos prejuízos, e um metro abaixo
provocava a faltava de água para as atividades agrícolas e a insuficiência do
processo de inundação. A inundação das margens era importante, já que, a água
transporta vários sedimentos que se tornam responsáveis pela fertilidade das
planícies alagadas e, se a inundação é insuficiente, acarretava a falta de
alimento à população. Percebe-se que o processo de cheia e vazante do Nilo era
mais regular do que o dos rios Tigre e o Eufrates.
A importância dos rios também é destacada
pelas grandes obras que eram construídas em função da água como, por exemplo,
diques para conter as enchentes e canais de irrigação que permitiam o
transporte de água para regiões mais distantes. Essas obras eram essenciais
para a agricultura e para a organização da vida no Oriente Antigo. Parte da
tecnologia usada nesta época ainda hoje é usada nestas regiões. Estas grandes
construções eram feitas principalmente pelo Estado e mobilizavam um grande
número de trabalhadores, mas existiram mesmo antes do aparecimento deste
aparelho burocrático.
Os rios eram o principal meio de transporte e era o mais
viável para o comércio já que o transporte por terra era extremamente caro e
ineficiente. A utilização dos rios para o comércio era mais importante na
Mesopotâmia que era a região que tinha as condições mais favoráveis para o
desenvolvimento comercial. Por isso, o Tigre e o Eufrates eram mais usados para
este fim do que o rio Nilo.
A importância da água era tão grande na Antiguidade
Oriental que esta fazia parte de todas as ações humanas e abarcava todas as
preocupações dos habitantes dessa região. A água era a base das atividades
comerciais (agricultura, comércio), mobilizava grandes ações coletivas
relacionadas às obras de caráter hidráulico (canais de irrigação e diques) e
estava presente nas manifestações culturais e religiosas do Oriente Antigo. A
água era à base e o centro da vida destas pessoas, e a conscientização a
respeito de tudo isso proporcionava atitudes de respeito e cuidados muito
maiores do que os que são demonstrados pelas sociedades atuais frente às suas
fontes de água.